terça-feira, 22 de novembro de 2011

A aprendizagem - texto sobre a visão geral do curso LIP III

Acordar, tomar banho, trocar de roupa, comer, sair, pegar o ônibus, metrô, caminhar, faculdade. Dia-a-dia: acordar para aprender. Mas quem pode me dizer o que é importante a aprender?  O céu, a água, o ar; mestres milenares disponíveis a todos sem custo algum. O espelho, labirinto infinito de questões irrespondíveis: existe desafio mais instigante e mais construtivo?! 
Tão instigante e construtivo quanto O Outro, feito à sua semelhança. Nada mais primitivo do que segurar as mãos de alguém e só sentir. Sem tentar entender, aquela pulsação pulsa. Sem tentar entender, aquela respiração respira. Sem tentar entender, aquele ser é. E junto com ele, eu me conforto, pois sei que apesar de só, não sou única. Somos todos sós, porém, juntos. 
E como eu e você, existe Lóri. Essa, como nós, possui medos infindáveis. Por conta disso, acabou por cortar  de vez a dor, sem saber que assim, sofria-se o tempo todo. Pensava sobre cada movimento, buscando um modo certo e preciso de executá-lo. Acontece que, de tanto tentar acertar, tropeçava em seus próprios pés. Caía, mas sem sentir a dor da queda, não aprendia. O torpor tomava conta de seus dias, nos quais, ela, alheia a tudo e todos, era apenas uma figurante.
Isso se estendeu até o momento em que encontrou em alguém a matéria-prima para construir seu corpo. Seus braços e pernas, antes desastrados, começaram a tomar forma...
Mas para tanto, ela precisou ser paciente, não correr contra o tempo. Descobriu o mar, e toda a sua beleza. O mar, repleto de águas salgadas, que ela percebeu que também a preenchiam. Se nele havia beleza, nela também haveria. Teve que ouvir o que Clarice, através de Ulisses, tinha a dizer. Teve que remexer a ferida aberta, só então conseguiu tocar o que precisava. 
Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busco arduamente o meu! Quando estiver mais pronta, passarei de mim para os outros, o meu caminho é os outros. Mas, antes preciso tocar em mim mesma, antes preciso tocar no mundo.Trago para todos a quem interesse, parte do que é realmente preciso aprender.

"Olhe para todos a seu redor e veja o que temos feito de nós. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não entendemos porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas, coisas e coisas, mas não temos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não esteja catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença,
sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos o que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."
“Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida.”

- Anna Daniela, com referências à Clarice Lispector e sua obra "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres".

Exercício de criatividade (mãos dadas)

Naquele momento, meu coração pulsava, apesar de tantas coisas que haviam acontecido para que isso não mais ocorresse. Meus olhos sentiam o peso do que não se materializava. A chuva escorria pelo rosto e nenhuma palavra adiantaria. O interior do ser era maior, e aquilo que estava escondido falava mais alto. As fraquezas de um animal como qualquer outro, agora escancaradas naquele momento de fragilidade. Assim como eu, aquela era mais uma alma sem destino certo. Uma necessidade desesperada de fazer algo por ela me afligia.
- Anna Daniela.

Os olhos que sorriam - narração entregue em aula


Naquela manhã nublada de março, tudo aconteceu como de costume, exceto por um mínimo detalhe: uma simples variação do estado mental doentio em que me encontrava. Uma pequena, porém muito significativa diferença que passaria despercebida pela maioria, já que nem todos são capazes de distinguir as nuances cinzas do cotidiano.
Tudo se resumia a um gesto involuntário, uma adorável distensão labial que escondia sentimentos profundos por entre seus caminhos. Aquele labirinto dentro de mim perpassava algo que se encontrava quase esquecido no meu ser: a felicidade. Isso se devia a uma só pessoa, enquanto tantas outras me cercavam.
E, quem diria?! Havia muitas surpresas sobre quem eu poderia ser. A ironia, minha fiel companheira, dessa vez me reservava algo além do comum. Não estava a rir-se de algo ruim que me tinha acontecido, mas sorria docemente da minha ingenuidade. Aquela ingenuidade tão complexa que envolvia a minha descrença.
Uma construção que se elevara diariamente, um muro que me impedia de ver e ser vista. E agora, era quase como se Deus estivesse descendo de seu confortável trono só para zombar da minha falta de fé. Junto com ele, riam de mim todos os outros de quem eu havia zombado um dia por acreditar cegamente. A ideia que eu tinha fixa em minha mente de repente ia se transformando em nada.
Tal niilismo me assustava, devo confessar. Levara-me a vida toda para construir aquilo que hoje se tornava pó. As lágrimas que derramei, as vidas nas quais me espelhei, as pessoas a quem amei, a solidão que me foi dada de presente, tudo isso antes parecia intransponível. E como num truque de baralho, a vida me tinha enganado. Ah, a ingenuidade...
 Por hora, só me restava um questionamento: quando teria eu, a chance de ter uma conversa com aquela nova e simpática figura no espelho? Só havia uma alternativa, e ela não me agradava. Intervenção. Era preciso que um dos lados forçasse para que aquele encontro acontecesse. Abandonar minha fortaleza, cômoda e irreal, era quase uma certeza de caos e destruição. A anestesia precisava deixar de fazer efeito, com certeza as dores viriam. Mas para o processo de recuperação, não havia outra saída.
Ainda me lembro, o coma era tão mais simples, só era preciso respirar. Contudo, minha vida inesperadamente sussurrou ao meu ouvido, me invocando a despertar. Já havia ignorado seu chamado antes, entretanto, como um veneno que me agradava, sua voz agridoce foi me enfeitiçando. Não conseguia mais fugir. Era a hora do Apocalipse: meu cérebro e meu coração, que travavam uma guerra eterna, finalmente teriam seu momento decisivo. Eu sabia, com toda a certeza, que o que ficasse decidido nesses dias mudaria minha vida para sempre.


- Anna Daniela.